Nova York, EUA
Realizou recentemente exposições individuais na XPO Gallery, em Paris, e na TRANSFER Gallery, no Brooklyn, em Nova York. Seu trabalho foi incluído no leilão “Paddles On!”, na casa de leilões Phillips, organizado por Lindsay Howard. Seu trabalho também foi exibido no Museu de Arte de Indianápolis, Indianapolis; Museum of the Moving Image, Nova York; Galleri Thomassen Gothenburg; Bitforms Gallery, Nova York; Mulherin + Pollard Projects, Nova York; DAAP Galleries, University of Cincinnati; 319 Scholes, Nova York; e no Villa Terrace Decorative Arts Museum, Milwaukee.
Sua obra foi citada em publicações como The Guardian, Wall Street Journal, Time Magazine, El Pais, Huffington Post, Rhizome, Domus, Wired, The Brooklyn Rail, Liberation, e no canal BBC. Valla possui o título de bacharel em arquitetura pela Universidade de Columbia e mestrado pela Rhode Island School of Design em Digital + Media. Atualmente, é professor assistente da Rhode Island School of Design.
Postcards from Google Earth, iniciado em 2010, continua em progresso
Impressões de tela do Google Earth, Tinta sobre papel
Em Postcards from Google Earth, Clement faz uma coleção de imagens do Google Earth. Durante sua pesquisa, o artista descobriu momentos estranhos, onde a ilusão de uma representação perfeita da superfície da Terra parece se quebrar. Em primeiro lugar, pensou que fossem falhas ou erros no algoritmo, mas, olhando mais de perto, percebeu que a situação era realmente mais interessante – essas imagens não são falhas; são o resultado lógico absoluto do sistema; são uma condição limítrofe – uma anomalia dentro do sistema, um não padrão, um caso isolado, mas não um erro. Esses momentos difíceis mostram o funcionamento do Google Earth, concentrando nossa atenção no software, que revela um novo modelo de representação: não através de fotografias indexadas, mas através da coleta de dados automatizada de uma infinidade de fontes diferentes, constantemente atualizadas e combinadas infinitamente, para criar uma ilusão sem costura; o Google Earth é uma base de dados disfarçada de representação fotográfica. Essas imagens estranhas enfocam nossa atenção nesse processo e na rede de algoritmos, computadores, sistemas de armazenamento, câmeras automatizadas, mapas, pilotos, engenheiros, fotógrafos, topógrafos e criadores de mapas que os geram.
The Universal Texture Recreated (46o42’3.50”N, 120 o26’28.59”W), 2010
Mesa de madeira, tijolo, cavalete, impressão com jato de tinta sobre tela.
A série The Universal Texture é baseada em imagens que o artista capturou da tela do computador enquanto navegava pela interface do Google Earth. Essa coleção de imagens enfatiza condições de borda, resultado de um processo automatizado que funde fotografias aéreas com dados cartográficos. Como as imagens são selecionadas de diferentes períodos e pontos de vista, aparecem anomalias em 3-D. As restrições dos algoritmos são reveladas, forjando uma geografia híbrida. As imagens de cartão-postal de Valla marcam um não lugar: estradas impossivelmente emaranhadas que evocam uma comunicação em rede. Esses locais serão apagados ao longo do tempo, conforme o sistema de mapeamento e análises do Google progride. Da mesma forma, as esculturas The Universal Texture são brincalhonas em seu questionamento de representação fotográfica, uma vez que Valla volta a imagem plana para a realidade tridimensional.
“O progresso na arquitetura nos deu controle total sobre os ambientes interiores, espaços com climatização controlada, conectados por escadas rolantes em shopping centers, aeroportos, hotéis e cassinos. O progresso na The Universal Texture promete possibilitar um mundo suave e contínuo, sem nuvens, iluminado, cada vez mais livre de anomalias contraditórias e inconsistência estatística.” – Clement Valla
The Universal Texture
Nota: este artigo foi publicado originalmente em rhizome.org.
Esses artistas (…) contestam o banco de dados, entendido como estrutura de poder desumanizada, com a coleção, como forma de memória idiossincrática, não sistemática e humana. Eles coletam o que os interessa, o que eles sentem que pode e deve ser incluído em um sistema de significado. Eles descrevem, criticam e, finalmente, desafiam a dinâmica do banco de dados, forçando-o a evoluir.
Eu coleciono imagens do Google Earth, as quais descobri por acaso – são fotografias particularmente estranhas, em que a ilusão de representação perfeita e precisa da superfície da Terra parece se desfazer. Eu mexia no Google Earth quando notei que um número impressionante de edifícios parecia estar de cabeça para baixo. Era possível dizer que havia duas entradas visuais concorrentes: o modelo em 3-D que formou a superfície terrestre e o mapeamento da fotografia aérea; e eles não combinaram. As sombras e a iluminação dos viadutos nas fotografias aéreas não estavam alinhadas com as dos viadutos nos modelos em 3-D.
As entradas visuais concorrentes que notei produziram algumas imagens excepcionais, e comecei a colecioná-las. No começo, pensei que fossem falhas, erros no algoritmo, mas, olhando mais de perto, percebi que a situação era de fato interessante: são o resultado lógico absoluto do sistema. São uma condição da margem, uma anomalia no sistema, um não padrão, uma situação isolada, mas não um erro. Esses eventos destoantes mostram o funcionamento do Google Earth, concentrando nossa atenção no software. São costuras que revelam um novo modelo de ver e representar o mundo – como dados dinâmicos e em constante mudança de uma infinidade de fontes diferentes, sem limites combinados, constantemente atualizados, criam uma ilusão sem costura.
Imagens em 3-D como aquelas no Google Earth são geradas por um processo chamado “mapeamento de textura”. O mapeamento de texturas é uma tecnologia que foi desenvolvida por Ed Catmull na década de 1970. Na modelagem em 3-D, um mapa de textura é uma imagem plana aplicada na superfície de um modelo em 3-D, como uma etiqueta em uma lata ou uma garrafa de refrigerante. As texturas em geral representam uma extensão plana com pouca profundidade de campo, para imitar as propriedades da superfície de um objeto. As texturas são mais como uma varredura que como uma fotografia. A superfície representada em uma textura coincide com a superfície do plano da imagem, diferentemente de uma fotografia, que representa um espaço além do plano da imagem. Essa diferença pode ser resumida de outra maneira: vemos através de uma fotografia, de uma textura bem-vinda. Eis uma distinção importante na modelagem em 3-D, porque as texturas são esticadas na superfície de um modelo em 3-D, tornando-se, em essência, a pele do modelo.
As texturas do Google Earth, no entanto, não são superficiais nem planas. São fotografias que examinamos em um espaço representado além, um espaço que nosso cérebro interpreta como tendo três dimensões e profundidade. Vemos espaço nas fotografias aéreas por luz e sombras e por nosso conhecimento prévio do espaço experienciado. Quando essas fotografias ficam distorcidas e esticadas pela topografia em 3-D da Terra, vemos o plano da imagem distorcida e através do mesmo plano de imagem no espaço retratado na textura. Em outras palavras, olhamos dois espaços ao mesmo tempo. Na maioria das vezes, essa duplicação de espaços no Google Earth passa despercebida, mas às vezes os dois espaços são tão diferentes que as coisas parecem estranhas, vertiginosas ou simples. Não estão errados. Eles revelam o sistema do Google usado para mapear a Terra. The Universal Texture [A textura universal]
The Universal Texture é uma patente do Google para mapear texturas para um modelo em 3-D de todo o planeta.
2 No núcleo, The Universal Texture é uma ótima maneira de gerar um mapa de textura da Terra. Como o próprio nome promete, trata-se de uma navegação ininterrupta tipo de Deus (ou drone-like) de nosso planeta – não uma série de azulejos de mapas discretos, mas uma experiência fluente e fluida. Essa experiência é tão diferente, muito mais perfeita que as tecnologias anteriores, que é uma conquista, como a que a escada rolante propiciou ao mundo das compras.
Nenhuma invenção teve, nas compras, a importância e o impacto da escada rolante. Em oposição ao elevador, que é limitado em quantidade e que, por seu próprio mecanismo, insiste na divisão, a escada rolante acomoda e combina qualquer fluxo, cria eficientemente transições fluidas entre um nível e outro e até mesmo desfigura a distinção entre andares separados e espaços individuais.
3 No mundo da mídia digital, essa continuidade fluida é análoga ao efeito do scroll infinito no Tumblr. No Google Earth, The Universal Texture oferece um conhecimento suave, completo e facilmente acessível da superfície do planeta. É capaz de tirar uma colagem de fotos gigante composta de imagens aéreas de fontes diferentes – empresas, governos, institutos de mapeamento – e mapeá-las em um modelo tridimensional. Combina esses dados diferentes em um espaço sem costura, como a escada rolante combina os andares em um shopping center. Nossos processos mecânicos para a criação de imagens nos habituaram a pensar em termos de instantâneos – segmentos discretos de tempo e espaço (não importa quão próximos entre si, ainda contamos em quadros por segundo e proporções de aspecto de imagem). Mas o Google pensa em continuidade. As imagens produzidas pelo Google Earth são bastante diferentes de uma fotografia, que tem um relacionamento indexado para um espaço determinado em um momento específico. Em vez disso, são imagens híbridas, um patchwork de dados fotográficos bidimensionais e dados topográficos tridimensionais extraídos de uma série de fontes, dados minados, pré-processados, misturados e mesclados em tempo real. O Google Earth é essencialmente um banco de dados disfarçado de representação fotográfica. É uma representação automática, estatística, incessante e universal que seleciona informações. (Por sua vez, não há “noite” na versão do Google Earth.) O sistema edita uma representação particular do mundo. O software edita, remonta, processa e embala a realidade para formar um modelo muito específico e útil. Essas imagens recolhidas ficam estranhas, porque são claramente uma representação incorreta da superfície terrestre. E é por não terem sido criadas por seres humanos que essas imagens são tão fascinantes. Foram criadas por um algoritmo que não encontra nada de errado nesses momentos. São menos uma criação que uma espécie de fato – uma representação das leis da “textura universal”. Como uma coleção, as anomalias são um estranho histórico natural do software do Google Earth. São estranhas novas tipologias, representativas de um processo digital particular. Em geral, a ilusão que The Universal Texture cria faz com que o próprio processo passe despercebido, mas essas anomalias oferecem um vislumbre da coleta e da montagem de dados. Elas trazem as fontes de dados divergentes à luz. Nessas anomalias, entendemos que existem entradas concorrentes, fontes de dados concorrentes e discrepância entre eles. O mundo não é tão fluido. Ao capturar screenshots dessas imagens no Google Earth, faço uma pausa e os retiro do ciclo de atualização. Eu capturei essas imagens para arquivá-las, para garantir que haja um registro de que foram produzidas pela The Universal Texture em horário e lugar específicos. Enquanto eu procurava por mais anomalias e revisava as que já descobertas, notei que as imagens selecionadas foram desaparecendo. As fotografias aéreas estavam sendo atualizadas, tornando-se “mais planas” – tomadas em um ângulo menor ou com as sombras abaixo das pontes silenciadas. Como o Google Earth está constantemente atualizando algoritmos e dados tridimensionais, cada momento só pode ser capturado como uma imagem estática. Eu sei que o Google está tentando corrigir algumas dessas anomalias, pois fui contatado por um engenheiro da empresa que criou uma solução inteligente para o problema das estradas e das pontes inclinadas. Embora a mudança ainda não apareça no software, é questão de tempo. Ao olhar mais de perto, os algoritmos também parecem ter uma maneira de selecionar certos tipos de fotografias aéreas, de modo que mais fotografias são tiradas, e melhor é a seleção. Para o Google, melhores fotografias são mais planas, têm menos sombras e são tiradas de ângulos mais altos. Por esse progresso, essas imagens estranhas estão sendo apagadas. Parte de meu trabalho seria o arquivamento dessas tipologias digitais temporais. Eu também chamo esses cartões-postais de imagens para me moldar como um turista no espaço temporal e virtual, um espaço que existe digitalmente por um momento e talvez nunca mais seja reconstituído por qualquer computador. Nada chama mais atenção para a temporalidade dessas imagens que a simples observação de que as nuvens estão desaparecendo do Google Earth, pois elas escurecem a superfície da Terra. The Universal Texture e seus algoritmos de banco de dados auxiliares são treinados em alguns traços qualitativos básicos – sem nuvens, alto contraste, profundidade superficial, fotos da luz do dia. – Clement Valla [tradução: Guilherme A. F. B. F.]